Mineração aumenta mais de 60% no Mato Grosso e soa alerta sobre impacto em rios Por Suzana Camargo

Mineração aumenta mais de 60% no Mato Grosso e soa alerta sobre impacto em rios Por Suzana Camargo

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Uma análise feita pela Operação Amazônia Nativa (OPAN), a partir de informações fornecidas pela Agência Nacional de Mineração (ANM), revela dados preocupantes sobre o enorme aumento dessa atividade na bacia do rio Juruena, no Mato Grosso. Segundo o relatório divulgado pela organização, entre 2018 e 2024, houve um salto de 782 para 1.261 nos processos minerários, o que representa um crescimento de 61,25%.

Ainda de acordo com o levantamento, que abrangeu 2.756 cursos d’água, 954 deles estão intersectados pela mineração, sobretudo a exploração de ouro e cobre. A atividade já cobre uma área de 2,6 milhões de hectares, maior do que a totalidade do estado de Sergipe (2,2 milhões de hectares).

“Esse dado é alarmante, pois sugere que a qualidade desses corpos d’água pode ser seriamente comprometida pelos impactos das atividades de mineração, ameaçando a saúde, a biodiversidade e a cultura dos povos que dependem desses rios”, ressalta Cristian Felipe Rodrigues Pereira, geógrafo e autor do boletim.

Juruena é a maior bacia hidrográfica do Mato Grosso e se sobrepõe aos limites de seis terras indígenas, entre elas, Escondido (Rikbaktsa), Kapôt Nhinore (Kayapó e isolados Capot/Nhinore), Kayabi (Apiaká, Kayabi e Munduruku), Paukalirajausu (Nambikwara), Portal do Encantado (Chiquitano) e Uirapuru (Paresi).

“A situação é muito preocupante, seja porque esses processos estão ilegalmente sobrepostos às terras indígenas, ou porque os rios dos quais dependem povos e comunidades do Juruena também estão na rota da mineração e podem ser contaminados”, denuncia Andreia Fanzeres, coordenadora do Programa de Direitos Indígenas, Política Indigenista e Informação à Sociedade da OPAN.

O relatório também indica que, além da exploração já em andamento, há diversos outros estudos e solicitações de pesquisa solicitados para eventuais atividades no futuro. Com isso, mais de um terço (34,61%) dos rios da região podem ser afetados pela atividade mineradora.

“Essa avalanche de processos minerários, avançando de forma tão acelerada, coloca em xeque o respeito ao direito à consulta livre, prévia e informada a povos indígenas e comunidades tradicionais na região. São várias camadas de violações”, afirma Andreia.

Um estudo publicado no ano passado revelou que peixes consumidos pela população da Amazônia têm mercúrio acima dos limites aceitáveis. A pesquisa realizada em mercados e feiras de estados da região Norte mostrou que, dos 1.010 pescados analisados de 80 espécies, todos estavam com contaminação acima do índice considerado aceitável pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

O mercúrio é usado em garimpos ilegais no processo de separação do ouro de outros materiais. Depois, a substância é despejada no meio ambiente, sem o manejo adequado. Uma vez descartado nos rios, ele se acumula nos organismos dos peixes e das pessoas que consumirem esses animais. 

Apesar de não se sentir o gosto do mercúrio no alimento, a substância é neurotóxica, ou seja, provoca graves danos ao sistema nervoso. Em seres humanos, a contaminação pode causar perda da visão periférica; dificuldades motoras, na fala, no caminhar e de audição; fraqueza muscular; comprometimento neurológico; coma e óbito.

Bebês que porventura venham a ser contaminados enquanto estão nas barrigas de suas mães tendem a sofrer sequelas neurológicas muito mais graves.

Foto de abertura: Adriano Gambarini

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